quinta-feira, 10 de dezembro de 2009


MUHERES DO SAHY: UMA LEITURA SOBRE O NAMORO E O CASAMENTO1
Maria Gloria da Paz*
Marlucia de Menezes Paiva**
RESUMO
Este texto é resultado de parte de uma pesquisa desenvolvida num extinto aldeamento franciscano, denominado Missão de Nossa Senhora das Neves do Sahy, situado no Piemonte Norte do Itapicuru, no Município de Senhor do Bonfim,Bahia. O campo de estudos que ancora esta reflexão é a História de Mulheres e tem como objeto as memórias das práticas educativas de mulheres na família, na igreja e na escola. Para este texto o recorte recai sobre o namoro e o casamento, em que tentamos entender como é que acontecia o namoro, numa comunidade em que era costume manter distantes meninos e meninas. A abordagem utilizada foi a História Oral; os sujeitos da pesquisa são dez mulheres com idades entre 15 e 100 anos.
Palavras – chave: memória, práticas educativas, namoro e casamento.
RÉSUMÉ
Ce texte est le résultat des recherches effectuées dans une station défunte franciscain, appelé Mission de Notre-Dame-des-Neiges Sahy, située dans le Piémont du Nord Itapicuru dans la ville de Senhor do Bonfim, Bahia. Le champ d'étude qui ancre cette réflexion est l'histoire des femmes et porte sur les souvenirs des pratiques éducatives des femmes dans la famille, l'église et l'école. Dans ce texte, le clip est sur la datation et le mariage, nous essayons de comprendre comment c'est arrivé la cour, une communauté dans laquelle on avait coutume de tenir à l'écart des garçons et des filles. L'approche utilisée a été l'histoire orale, les sujets sont dix femmes âgées entre 15 et 100ans. Mots clés: mémoire, le rôle parental, la datation et le mariage.
1. Missão do Sahy: as mulheres e a Família
A maioria das famílias apresentadas nos relatos das dez mulheres remanescentes indígenas de Missão do Sahy, está ligada ao grupo das que se encontram na formação denominada antropologicamente de “nuclear” por serem, segundo os estudos dessa área, um grupo que consta do pai, da mãe e dos filhos, quer vivam juntos, quer não. É normalmente uma unidade básica da estrutura social, com que se constituem as duas relações primárias de parentesco: as de paternidade e as de irmandade.
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As famílias aqui tratadas têm procedência exógena, são originárias do casamento entre pessoas residentes no mesmo povoado, são uniões em sua maioria consentidas legalmente e por todos os parentes. Como dissemos acima, o conceito de família é algo que se modifica ao longo do tempo e de acordo com as modificações da estrutura social. O status de família, no Brasil, segundo Alves (2007), somente era conferido aos agrupamentos originados do Instituto do Matrimônio, segundo o Código Civil de 1916 — um atestado da aliança entre o poder estatal e a Igreja em defesa do patrimônio e da preservação de grupos. Para o autor, a felicidade das pessoas não era motivo de preocupação, pois era notório o desequilíbrio entre os casais, e o poder masculino tinha o respaldo da Lei:
[...] o Código era o espelho de uma sociedade ainda patriarcal e, por isso mesmo, machista, onde o marido tinha a incumbência de sustentar economicamente a família e à esposa só restava o dever da cuidar da casa e dos filhos, por óbvio que a legislação iria estampar a superioridade masculina. (ALVES, 2007, p. 3).
A citação de Aves(2007), é um pouco do que ainda acontece em algumas comunidades do interior do Nordeste, mesmo que estejamos vivendo no contexto atual um momento de divisão de responsabilidades no lar, com a mulher também contribuindo com o seu trabalho fora de casa, para o equilíbrio das contas e em alguns casos, até assumindo as finanças do casal; esse “espelho de uma sociedade patriarcal” ainda incomoda, devido a sua preservação que pode estar acobertada por uma falsa liberdade, em que o auto controle é uma prática que se apresenta nas entrelinhas das falas, na maneira de comportar-se, no vestir-se ou ainda de forma mais explicita, sob variadas formas de violência física.
Nos relatos das entrevistadas, as famílias de Missão do Sahy, apresentam traços de modernidade, por força de contratempos como a viuvez e os casamentos desfeitos; aparecem mulheres assumindo totalmente o comando da casa, e esse é um dos motivos pelos quais muitas famílias são adotadas pelas avós. Uma das entrevistadas, relata, que é originária de
[...] uma família de gente fraca, mas era humilde não é? Todo mundo unido a gente morava junto, meu pai morreu e minha mãe ficou na casa da minha avó, minha avó nunca botou ela pra fora porque ela trabalhava e não merecia botar ela pra fora porque ela era casada com meu pai, aí meu pai morreu e ela ficou viúva, nunca quis casar com outro, achou dois casamentos e não quis, e aí ficamos tudo junto: minha avó, minha mãe e tia (materna) Madalena, tia Lena (apelido) com dois filhos, depois um casou e ficou só o Antonio, que ainda hoje vive com ela e a minha [mãe] com nós duas eu e Petrina, [que] foi pra São Paulo.
Observa-se nesse depoimento que a autoridade da família recai sobre a avó pois, independentemente da condição financeira e do estado civil das filhas, ela as acolhe e aos seus filhos em sua casa — uma com dois filhos do sexo masculino, outra viúva, com duas filhas, dividindo equitativamente entre elas tanto as despesas quanto os parcos recursos financeiros resultantes do extrativismo do ouricuri e do trabalho na colheita de café.
Nas memórias das mulheres de Missão do Sahy é comum a presença dos ensinamentos da família especialmente da mãe a quem era delegado o zelo pelo corpo das filhas. Ao lembrarem das suas infâncias, a casa foi a primeira imagem que descreveram; a maioria narrou sobre o espaço social de sua casa, os acontecimentos e a convivência com seus familiares, enquanto que um por cento delas se reportaram a casa como espaço físico, um filete de lembrança que nos induz a ajuntar evidências e elaborar ainda que de forma tênue uma impressão sobre as condições sócio economias e culturais vividas por elas em seus grupos e na comunidade.
Para Halbwachs (2006),infancias unho so tem sentido para o grupo a que pertence os indivíduos, pois ele traz em si as lembranças de um evento vivido em comum, o que faz com que as lembranças do passado sejam reconstituidas. As lembranças reconstroem apenas o que é passado, logo, as entrevistadas trazem para o presente, as lembranças dos ensinamentos recebidos durante o período de sua infância, orientações que formaram a postura de muitas meninas da época, guiando as suas relações em seus grupos de amizades e brincadeiras, demonstradas claramente nos cuidados ao relacionar-se com o sexo masculino, para a maioria os pais não permitiam aproximação dos meninos, 40% das entrevistadas podiam brincar com irmãos e primos do sexo masculino e 1% podia brincar entre si sem restrições.
No livro Tristes Trópicos, Levi-Strauss (1996, p.272) descreve algumas cenas do cotidiano indigna Nambiquara, em que índios adolescentes brincam entre si sem nenhuma proibição, “[...] as mulheres jovens gostam da sociedade das crianças e dos adolescentes, com quem brincam e gracejam; e são as mulheres, dentro do grupo que cuidam dos bichos dessa forma humana característica de certos índios sul-americanos.” A única diferenciação encontra-se nas formas de trabalho, os meninos em idade mais madura são levados até as roças com os homens e as meninas seguem as mães nas coletas de alimentos e afazeres domésticos.
Seriam somente os índios do Brasil Central que agiam dessa maneira ou esta prática era comum a todas as outras regiões do Brasil? Se temos uma descendência indígena em Missão do Sahy, de onde se originou a proibição do relacionamento das meninas com os meninos, se estas restrições não eram propagadas entre as famílias de etnia indígena? Outra preocupação, se as proibições não fazem parte dos costumes de origem, por que as famílias do antigo aldeamento as adotaram?
È possível que esse tipo de proibição tenha tido a sua introdução no momento em que os religiosos no período da colonização interromperam alguns dos costumes vivenciados pelos indignas em suas tribos em seus grupos familiares através de castigos ou por assimilação. Frei Vicente Salvador (2009, p.62), escreve em seu livro História do Brazil (1500-1627) que aos filhos não obedeciam aos pais, que as mulheres mandavam nos maridos, além da dificuldade em averiguar qual das mulheres era a esposa do principal, visto que não existia contrato e ele podia tomar outras. Com a inserção do matrimonio, os nativos são levados a adotar as relações monogâmicas e legitimadas pelo sacramento do casamento.
Isso nos leva a crer que se o nativo convivia com várias mulheres e o elemento de distinção entre eles eram as formas de trabalho, o que era transmitidos pelos pais, então não havia proibições nos relacionamentos entre meninos e meninas e o que teria dado incio a este tipo de controle teriam sido as normas de civilidade e convivência instituídas pelos religiosos com o intuito de formar uma vida racional e civil. As proibições transmitidas pelos ensinamentos da Igreja, rompem com a idéia de um corpo assexuado, que convive com o outro sem que seja notadamente percebida a sua diferenciação social, o que vai colaborar para o surgimento da valoração do corpo feminino e de suas funções biológicas e sociais.
O namoro e o casamento: primeiro namorado, casei com esse viu?
Para as depoentes com idades entre 70 e 100 anos, classificadas nesse estudo como mulheres do primeiro grupo, o namoro era uma relação que acontecia por volta de doze a quatorze anos, era uma relação que começava através de olhares correspondidos, à distância, sem maiores aproximações de corpos, sendo por isso considerada por elas como um namoro “de respeito”, que se tornava uma relação consentida por todos, na ocasião em que o rapaz, acompanhado por algum membro mais velho da família, pedia a moça em casamento; a partir desse momento tornavam-se noivos e o rapaz podia então freqüentar a casa da moça. Em uma entrevista, a depoente comenta a reação de uma tia quando foi informada sobre o seu casamento: “[...] essa menina está muito nova [...] ela vai casar nova e pensa que casada pode namorar.” Diante dessa afirmação, a mãe respondeu: “Minha filha não é doida, ela tem juízo!” Em alguns relatos, encontramos algumas reações contrárias ao casamento de pessoas muito jovens, por acreditarem que um casal muito jovem não tinha condições nem amadurecimento necessários às responsabilidades advindas de um casamento.
Essas falas demonstram que, além de uma preocupação com a maturidade da mulher que iria assumir um compromisso de tamanha responsabilidade, havia o desejo de preservação da reputação das moças e da sua ascensão social, pois era necessário casar-se com alguém que, mesmo sendo de poucas posses, pudesse proporcionar um pouco de conforto para a família. Este pensamento, comum na camada popular rural, impulsionou a muitos casamentos de jovens adolescentes de até doze anos com homens mais idosos ou viúvos; várias famílias, sabedoras da existência de pretendentes com melhores posições socioeconômicas, desposavam as suas filhas, não se importando com a pouca idade delas; casavam-nas para satisfazer tanto ao patrimônio da família quanto às questões morais, ou seja, para livrá-las da possibilidade de envergonhar “o nome” de origem.
Dentre as entrevistadas, uma permanece solteira até hoje, com 82 anos. ela relata suas experiências com o trabalho, em sua casa, mas muito pouco se refere ao namoro e ao casamento. Mesmo assim, em uma das suas colocações diz que o namoro acontecia através de conversa “[...] que nem pegar na mão não pegava” e que ela nem se lembra mais se os namorados seguravam ou não as mãos. Ela encontra no destino as razões para o não-casamento e, por conta disso, permanece solteira até hoje, agradecendo a Deus por essa condição.
As mulheres do Sahy com idades entre cinqüenta e setenta anos, começaram a namorar entre 12 e 16 anos. Para uma delas, o namoro tinha o seu inicio entre os primos e às escondidas da família. Quando acontecia de serem flagrados, os pais tratavam de instruir a filha quanto aos perigos de uma aproximação com o namorado e convidava-os a namorar em casa, sentados à vista dos pais “[...] o pai de um lado e a mãe do outro, o rapaz e a moça ali, só segurando nas mãos.” É interessante notar que a maioria casou-se com o primeiro namorado. Numa comunidade onde as proibições eram muitas, as mães chegavam a bater nas filhas ao descobrir qualquer indício de namoro. Outra senhora conta que, aos doze anos, numa quinta-feira da Semana Santa, ela, juntamente com amigos, subiu ao Monte Thabor (costume religioso que acontece até hoje); ao retornar, foram até a casa de uma senhora que vendia bolo e refresco; a sua mãe ficou sabendo, através de uma vizinha, que ela estava com o namorado e algumas amigas, a mãe foi ao seu encontro e trouxe-a para casa pelas orelhas, uma ação que resultou em um pedido de noivado e, algum tempo depois, no matrimonio do casal. As mães pobres do povoado de Missão do Sahy, assimilando um ideal da classe burguesa (o fortalecimento da família através do cuidado com o espaço doméstico e o zelo pelos filhos, em especial a vigilância sobre as filhas), faziam desse princípio uma prática cotidiana, redobrando os cuidados com as meninas, prendendo-as ao trabalho doméstico, aconselhando-as sobre o que seria ou não prejudicial à moral de uma moça, num trabalho de conscientização eficiente, a ponto de as moças exercerem o autocontrole sobre si mesmas e sobre as amigas, o que certamente motivou a fala de uma das senhoras sobre o espanto do grupo ao ver uma amiga beijando o namorado: “[...] para um rapaz dar um beijo numa moça, era um sacrifício; e quando acontecia de uma do nosso grupo escapulir, nós ficava horrorizadas, tu viu fulana, eles tavam se beijando! (sic)."
Esse tipo de atitude corrobora o que escreve D’Incao (2007) sobre algumas formas de aproximação entre moças e rapazes da classe popular no século XIX: tomando como parâmetro algumas narrativas do livro de Manoel Antonio de Almeida, Memória de um Sargento de Milícia, a autora supõe que essa relação se dava de forma mais aberta e sem maiores proibições, pois, no livro algumas narrativas nesse sentido demonstravam que nas classes populares valiam o beliscão e pisadas no pé, mas agora entre os amantes, na ausência dos pais e como jogos da fase inicial de namoro.
Quanto às famílias da classe popular rural de Missão do Sahy, do mesmo modo que exerciam a vigilância sobre a castidade das moças também se preocuparam com a situação econômica do pretendente, pois a família já vivia as suas dificuldades financeiras e certamente não iria consentir num casamento que lhe trouxesse mais preocupações. Assim falam sobre o que pensavam os seus familiares: “Os pais só deixavam casar, depois que o rapaz fizesse a casa, nem que fosse um rancho de palha, mas tinha que ter um lugar... Eles falavam: não pode casar com essas pernas de calça que não têm aonde vocês enfiarem a cabeça.” O que as famílias das entrevistadas do segundo grupo do Sahy demonstram é que, herdando ou não alguns princípios criados pela burguesia, e já ressignificados, também tinham os seus próprios desdobramentos e mecanismos de controle sobre a formação de novos grupos familiares.
As mulheres que classificamos como terceiro grupo, com idades entre 15 e 30 anos, têm um grau de escolaridade maior, com mais acesso a outras formas de conhecimento e de trabalho; o povoado também sofreu muitas modificações, os mais velhos foram desaparecendo, outros elementos foram sendo incorporados à cultura local, ampliaram-se as relações com outras pessoas que passaram a residir ou trabalhar no povoado; com isso a visão de mundo foi se modificando e aquilo que ontem era considerado ofensivo é olhado hoje com mais naturalidade. O namoro para as mulheres dessa geração não mais é visto como algo essencial na vida delas; não é mais necessário cumprir aquele ritual da formação da dona de casa, elas têm outras metas de vida. Uma adolescente de 15 anos, tem o seu tempo dividido ente os estudos e a direção de uma pequena organização de jovens, sobrando muito pouco para outros tipos de atividades, entre elas o namoro. Perguntada sobre isso, ela relata:
Eu procuro não namorar muito, porque eu sou uma pessoa que tem muitas coisas a fazer... E principalmente a noite, eu não tenho tempo pra namorar, as vezes tem reunião na organização, eu tenho a maioria dos meus amigos... são amigos mesmo, e eu não quero atrapalhar a amizade pra namorar, porque fica um clima diferente [...].
As gerações anteriores tinham sobre si o controle dos pais, viam no namoro e no casamento um meio de melhoria de vida ou de libertar a sexualidade feminina, mesmo que para isso precisassem assumir responsabilidades em idade tenra e ter sobre si o controle do marido. Uma das entrevistadas mais velhas desse terceiro grupo ainda colocou o casamento como uma forma de liberdade, porém a criação dos filhos era bastante diferente da sua.
O que observamos é que os conceitos a respeito da geração de novos grupos e novas famílias mudaram; a movimentação das classes sociais, seus ideais e as formas de atuação mudaram; a própria família mudou, as mães de hoje não são mais aquelas que somente cuidavam de filhos, marido e administração doméstica; a mulher de hoje, depois de muitas conquistas e resistências, tem conseguido alcançar espaços nunca antes pensados; com isso, o namoro e o casamento foram perdendo um pouco a primazia na vida das mulheres e quando acontecem é de forma diferenciada; independentemente da motivação, obedecem a uma escolha determinada pelas pessoas que os propõem, não mais obedecendo aos interesses da família como acontecia no passado.
Em Missão do Sahy também se percebe isso, a exemplo da adolescente, que prioriza a sua formação profissional, faz opção pelos movimentos sociais, ocupando a direção da associação de jovens, além de ter muitos amigos. E a mais velha deste grupo, escolheu o casamento como forma de liberdade: “[...] eu casei...eu acho que era pra ter mais um pouco de liberdade...e de certa forma tive [...].” O cuidado com marido e filhos não fez com que ela se acomodasse, mas mudou a sua visão sobre o casamento: “[...] com o tempo, eu mudei o conceito que tinha de casamento... e já via de outra forma, mais de companheirismo... não só de liberdade [...]”; com isso, não abdicou de sua individualidade em prol da vida doméstica, mas modificou a dinâmica da sua casa para atender aos novos chamamentos da vida moderna, o que tem propiciado a ela novas experiências.
CONCLUSÃO: uma roda de conversa inconclusa
Sem dúvida, a mulher, por todo processo educativo recebido e pautado nas ideias religiosas tanto do catolicismo quanto do protestantismo, é ainda a memória viva da Igreja no seio das comunidades, uma prova da sua importância para a conservação dos preceitos de qualquer facção religiosa, assim como o mostra Almeida (2007, p.21):
Pela via educacional e religiosa, edificavam-se modos de vida,valores éticos e morais, hábitos e costumes. Nestes, a contribuição feminina era valorosa, pois as mulheres, de acordo com os princípios protestantes norte-americanos, seriam as mais indicadas para educar e instruir de acordo com os ditames da fé e da moral.
Nesse mister, que envolvia idéias igualitárias e não diferenciadas quanto ao sexo, eram as mulheres as educadoras da infância, as conhecedoras do método e as principais defensoras da co-educação. A exemplificação de acontecimentos ocorridos no período da colonização e a consideração de práticas comuns à Igreja em todos os tempos deixa à mostra a forma de contribuição dessa Instituição para o modelo feminino que ainda hoje sobrevive ao tempo e às aculturações decorrentes do processo civilizador. Os costumes religiosos ainda permanecem vivos nas práticas das pessoas de Missão do Sahy, mesmo que várias informações sejam intensificadas e transmitidas por outras instituições.
Ao observar as mulheres mais jovens, percebemos que elas têm recebido, além das influências das mães e resquícios das avós, os códigos do mundo moderno, que se infiltram através dos meios de comunicação (a televisão, o rádio, os jornais, as revistas, a telefonia digital, a internet) que interligam hoje Missão do Sahy ao que há de mais moderno. Vai sendo deixado para trás o tempo em que as cartas aos parentes eram escritas por terceiros e que demoravam uma semana ou mais para chegarem às mãos dos destinatários, e as noticias eram transmitidas de boca em boca nas rodas da quebra do ouricuri, nas idas e vindas entre as portas de casa ou na porta da igreja. É certo também que os relacionamentos sejam as amizades, o namoro ou o casamento se renovaram e assumiram outras formas de existir.
RFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Jane Soares de. Ler as Letras: porque educar meninas e mulheres? São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo: Campinas: Autores Associados, 2007.
D’INCAO, Maria Angela. Mulher e família burguesa, In: DEL PRIORE, Mary (Org.) História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2007.
HALBWACHS. Maurice. A memória coletiva. Trad. Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro. 2006.
LEVI-STRAUSS, Claud, Tristes trópicos; tradução Rosa Freire d'Aguiar.- São Paulo: Companhia das Letras,1996.
VICENTE, do Salvador, Frei. História do Brasil, 1ª reimpr. Curitiba: Juruá, 2009.
Artigo
ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O Reconhecimento Legal do Conceito Moderno de Família: O Art. 5º, II e Parágrafo Único, da Lei Nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Clubjus, Brasília-DF: 11nov. 2007. Disponível em: Acesso em: 20 jul. 2008.
2.Royal Anthropological Institute of Great Britain and Irleand. Guia prático de antropologia: preparado por uma Comissão do Real Instituto de Antropologia da Grã-Bretanha e da Irlanda; tradução de Octavio Mendes Cajado. São Paulo. Cultrix, 1973.
Trabalhos Acadêmicos
DA PAZ, Maria Gloria. História de mulheres: a educação de mulheres remanescentes indígenas de Missão do Sahy. Tese de doutorado apresentada a Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN. 2009.
Fontes Orais
BEZERRA, Gilsa de Souza. Entrevista concedida a Maria Glória da Paz em 09 jan. 2008.
COSTA, Isaura Nunes. Entrevista concedida a Maria Glória da Paz em 08 jan. 2008.
DOURADO, Maria das Neves de Aquino. Entrevista concedida a Maria Glória da Paz em 08 jan.
2008.
GAMA, Gisélia Rodrigues. Entrevista concedida a Maria Glória da Paz em 08 jan. 2008.
NASCIMENTO, Adalgisa Alves do. Entrevista concedida a Maria Glória da Paz em 08 jan. 2008.
SILVA, Maria José Anunciação. Entrevista concedida a Maria Glória da Paz em 08 jan. 2008.
SILVA, Saniuma Santana da. Entrevista concedida a Maria Glória da Paz em 28 jan. 2008.
SILVA, Terezinha Aquino da. Entrevista concedida a Maria Glória da Paz em 15 dez. 2007.
SOUZA, Antonieta de. Entrevista concedida a Maria Glória da Paz em 7 fev. 2008.
VALADÃO, Eulina Vieira Malta Eulina. Entrevista concedida a Maria Glória da Paz em 07 jan. 2008.
1Artigo apesentado Congresso internacional da AFIRSE – V Colóquio nacional. Out. 2009. publicado em CD - ISBN 9788577454372. *Doutora em Educação pela Universidade Federal do rio Grande do Norte-UFRN. Prof. Axiliar do Campus VII da UNEB e, Senhor do Bonfim, Bahia. **Doutora em Educação.Prof. Adjunto da Universdade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN.. Natal-RN.

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